Um dos pontos altos da nossa viagem (clique aqui para conhecer o nosso roteiro) foi,
sem dúvida, a passagem por Lancaster, pela oportunidade que tivemos de
testemunhar o quotidiano dos amish e aprender sobre as suas origens e modo de
vida.
No Museu The Amish
Village, podemos escolher entre dois tipos de visita guiada. A primeira
tem um custo de 9USD e tem a duração de 25 minutos, consistindo numa visita
guiada pela casa, seguida de exploração individual do restante complexo (inclui
celeiro, quintal, escola e serralharia). A segunda custa 22USD e consiste numa
viagem narrada de autocarro de 90minutos. Escolhemos a primeira opção.
A visita decorreu em pequenos
grupos, iniciando com um briefing em que nos foi dada uma perspetiva histórica
dos amish e debatidas algumas crenças sobre este
grupo.
Consideramos que foi uma
experiência muito elucidativa, que decorreu de forma organizada. O discurso
muito objetivo e acompanhado de exemplificações facilitou a compreensão. Destacamos a disponibilidade da guia para responder a quaisquer
questões no final da visita. A visita é feita em inglês, mas estão disponíveis
transcrições do discurso, em diversas línguas, para quem quiser acompanhar.
Infelizmente, o português não é uma delas.
Terminada a visita pelo complexo da Amish Village, seguimos um pelas estradas de Strasburg, Paraside, Bird-in-hand e Intercourse, onde podemos testemunhar cenas do quotidiano amish.
Para os curiosos por outras culturas, como nós, decidimos criar este post para partilhar parte do que aprendemos.
1. Sobre as origens
Atualmente apenas podemos encontrar comunidades amish nos E.U.A e no Canadá. Para sermos mais precisos, nos E.U.A existem comunidades em 28 estados, encontrando-se a maioria em Indiana, Ohio e na Pensilvânia. A maior concentração é precisamente a de Lancaster com cerca de 34.000 indivíduos.
Nascidos e perseguidos na Europa, os amish etabeleceram-se nos E.U.A a convite de William Penn. Começaram a chegar à Pensilvânia no início do século 18, entrando por Filadélfia e caminhando até Lancaster.
Importa reter que os amish (de Jacob Ammann) são um grupo cristão anabatista, dissidente dos menonitas (de Menno Simons), também originários da Europa.
Os anabatistas não concordam com o batismo infantil por acreditarem que a pessoa deve ter idade suficiente para perceber o significado do seu compromisso.
Os amish acreditam na excomunhão dos membros dissidentes, que inclui o evitamento - shunning.
Uma das questões que tínhamos curiosidade em esclarecer era como viviam os amish afastados do mundo exterior.
Apesar da família amish tentar viver o mais separado possível do mundo exterior, a verdade é que hoje em dia vivem em harmonia com os "ingleses".
Existem grupo mais conservadores do que outros, contudo, aqui e ali, vão-se deixando cativar pelas tentações do mundo exterior.
Existem grupo mais conservadores do que outros, contudo, aqui e ali, vão-se deixando cativar pelas tentações do mundo exterior.
Ao visitar uma comunidade amish é importante respeitar a privacidade dos seus membros, particularmente no que respeita a fotografias, dado que não aprovam imagens gravadas/esculpidas. A maioria não aceita pousar para fotografias, assim como não têm imagens religiosas ou esculturas.
Em relação ao relacionamento com o estado, os amish que trabalham por conta de outrém fazem os descontos conforme suposto, mas não aceitam pagamentos da segurança social. Se precisam de apoio, este é dado pela comunidade amish. A segurança dos amish é a sua comunidade. Por exemplo, se um celeiro arder, a comunidade junta-se e este estará reconstruído em poucos dias.
Também pagam outras taxas, como sobre rendimentos, propriedades e taxas escolares.
3. Sobre a centralidade da quinta
A quinta e o celeiro são centrais na vida de uma família amish. Dali vem o seu alimento, assim como o sustento de grande parte das famílias. Os amish são agricultores por inerência.
O celeiro é tão importante que é construído primeiro do que a casa, que se necessário só é construída mais tarde quando os jovens casais tiverem disponibilidade.
Toda a família trabalha na quinta, começando pelas crianças.
A quinta e o celeiro são centrais na vida de uma família amish. Dali vem o seu alimento, assim como o sustento de grande parte das famílias. Os amish são agricultores por inerência.
O celeiro é tão importante que é construído primeiro do que a casa, que se necessário só é construída mais tarde quando os jovens casais tiverem disponibilidade.
Toda a família trabalha na quinta, começando pelas crianças.
No celeiro do museu encontramos vários animais representativos daquilo que podemos encontrar numa verdadeira quinta.
Assim como plantações.
Praticamente tudo o que é consumido pelos amish vem das suas quintas. Não que existam restrições alimentares mas porque dependem daquilo que a natureza tem à sua disposição.
Podemos dizer que fazem uma alimentação regrada e saudável. Aliás, algumas estatísticas e estudos indicam que nesta população o índice de algumas doenças é mais baixo, nomeadamente cancro.
4. Sobre a Habitação
Numa casa amish não há eletricidade, rádio ou televisão. Isto porque, na casa não devem entrar influências do mundo exterior, nomeadamente fios elétricos ou de telecomunicações.
Assim sendo, os amish também não têm telefone em casa. Podem usar, no exterior. Alguns até têm, secretamente, um telemóvel.
Todos os elementos presentes numa casa amish têm uma função, que não a decorativa. Por isso, em muitas casas não há cortinas, por não terem utilidade. Usam, antes, estores nas janelas.
Na pintura das casas priveligiam as cores verde, azul e branco, representativas da natureza, céu e pureza, respetivamente.
Normalmente, a cozinha é o quarto maior e onde a família passa mais tempo. Aqui, há um fogão a lenha, hoje em dia, maioritariamente usado para aquecimento.
Desde 1930 é usado o fogão a gás. Frigorífico e aquecedor também podem ser alimentados desta forma, assim como os candeeiros portáteis ou outros aparelhos domésticos.
Sendo a zona da casa com aquecimento, e onde a mãe e irmã mais velha passam algum tempo, encontra-se, quase sempre, um sofá, próprio para quando uma criança adoece.
Na cozinha também costuma existir um espaço para a máquina de costura.
Hoje em dia são utilizadas camas e colchões comuns. No entanto, a maioria não tem roupeiro, sendo a roupa disposta em cabides na parede, e os sapatos num móvel.
O quartos dos pais é o maior, com um espaço reservado para os bebés. Normalmente, este quarto tem vista para o celeiro para que, caso aconteça alguma coisa durante a noite, o pai possa ver pela janela.
5. Sobre o ensino e profissões
Os amish têm as suas próprias escolas. A escolaridade limite é o 8° ano, sendo que esta é a educação que a professora tem. O currículo é muito particular também, cingindo-se aos conhecimentos necessários à vida diária.
Em casa e escola é falado um dialeto do alemão - pennsylvania dutch, e só aprendem inglês ao entrar na escola, como 2ª língua.
Também aprendem o alemão, uma vez que é nesta língua que está escrita a bíblia e é celebrado o culto.
Os amish sempre foram agricultores, e desenvolveram a arte da serralharia necessária à manutenção das ferramentas. No entanto, como o trabalho agrícola não chega para todos, hoje em dia alguns são carpinteiros, construtores, pintores e comerciantes.
6. Sobre os transportes
O cavalo e os buggies são os principais meios de transporte. Apesar de não poderem ter ou conduzir um carro, podem andar num, assim como autocarros e comboios.
Os meios privilegiados para trabalhar a terra são o cavalo e a mula.
7. Sobre o vestuário e aparência
O vestuário e aparência dos amish são um símbolo religioso, mostrando conformidade entre os membros e destacando-os do mundo exterior.
Podemos adjetivar de modesta a forma como os amish se apresentam. Não usam padrões impressos para fazer as roupas, limitando-se a cores simples. Têm preferência pelo azul, roxo, verde e preto, e raramente usam vermelho.
Em relação ao calçado, a lógica é a mesma. Embora os mais jovens não resistam às sapatilhas.
A razão para não usarem botões ou cintos é porque fazem lembrar os militares que os perseguiram na Europa. Nesta mesma lógica, também não usam bigode. No entanto, depois de casar os homens têm que usar barba.
Ao sair à rua os homens e os rapazes usam chapéus. Por um lado, para comunicar que são amish, por outro porque permite distinguir a sua paróquia e grau de conservadorismo.
Apartir dos 8 anos, as mulheres usam sempre um avental por cima do vestido. O avental é segurado por alfinetes, evitando os botões.
Há a roupa do dia-a-dia e a roupa para o dia de culto. Também há distinção entre a roupa das mulheres casadas e solteiras. As mulheres casadas vestem meias, vestido e chapéu preto.
Não é permitido usar cosméticos nem bijuteria ou jóias, incluindo aliança.
8. Sobre as Cerimonias religiosas
Cada paróquia tem cerca de 30 a 40 famílias, e 2 ministros.
Não têm igrejas, sendo as orações feitas na sala de estar das famílias, onde também são realizados os casamentos e outras cerimónias. As famílias vão-se revezando para receber o serviço em casa, que começa às 8h e termina as 12h. É usada uma versão alemã da tradução original da bíblia luterana. Segue-se um almoço leve.
Cada paróquia tem cerca de 30 a 40 famílias, e 2 ministros.
Não têm igrejas, sendo as orações feitas na sala de estar das famílias, onde também são realizados os casamentos e outras cerimónias. As famílias vão-se revezando para receber o serviço em casa, que começa às 8h e termina as 12h. É usada uma versão alemã da tradução original da bíblia luterana. Segue-se um almoço leve.
O culto é celebrado em Domingos alternados. No Domingo em que não há celebração, familiares e amigos visitam-se.
A comunhão acontece duas vezes por ano, em que os presentes partilham um copo de vinho, o bispo parte o pão com cada membro e segue-se uma cerimónia de lava-pés.
Os casamentos ocorrem nos meses de Novembro e Dezembro, às terças e quintas, porque a época da colheita já terminou e terão mais tempo para as celebrações. É tudo articulado com o ministro da igreja e as famílias dos noivos. No dia do casamento, a celebração religiosa começa pelas 08h30, e termina às 12h, seguido de um banquete para cerca de 200 pessoas.
9. Sobre a decisão mais importante das suas vidas
Ao aproximar da idade adulta, os amish são confrontados com a decisão de continuar no grupo, aceitando por isso o batismo, ou abandonar e enfrentar o shunning (excomunhão e evitamento por parte da familiar e restante comunidade). Não há amish convertidos. Para se ser amish é preciso nascer amish.
Como em todas as áreas da vida amish, neste ponto existem grupos mais conservadores do que outros. Alguns permitem que os jovens conheçam o mundo exterior e o que este tem para oferecer, fazendo por vezes uma viagem às grandes cidades, para que assim possam tomar uma decisão fundamentada.
Com este post esperamos ter despertado a vossa curiosidade para visitar estas, ou outras, paragens amish. Para nós foi uma experiência muito interessante.
Como é rica uma viagem em que temos contato e aprendemos sobre outras culturas. Por mais estranhas que nos pareçam, sempre há algo a nos ensinar.
ResponderExcluirVerdade!
ExcluirSupre interessante... Um dia quero fazer algo parecido. Uma cultura que me intriga um pouco... :)
ResponderExcluirÉ muito interessante! :)
ExcluirMuito interessante poder conhecer o modo de vida amish, mas fico me perguntando se eles não mostram apenas o que querem mostrar... Nas fotos das casas, tive a impressão de estar vendo a vida no século 19 e por mais que a gente saiba que é preciso respeitar culturas diferentes, é difícil não 'sofrer' diante da significância de um móvel chamado 'baú da esperança'.
ResponderExcluirEsta casa "museu" mostra claro o modo de vida mais tradicional. Mas como referimos no post hoje em dia as casas e a vida dos amish estão mais modernizadas, embora sigam por norma a ideologia base. O baú da esperança realmente remonta a tempos mais antigos em que o sonho das mulheres era casar e ter filhos. Esta ainda será hoje em dia a forma de pensar predominante nesta comunidade. Felizmente evoluímos nestes aspetos. Além das diferenças, testemunhando noutras cidades algumas cenas do quotidiano (não encenadas) ou iterações entre pais e filhos que viajavam pelos EUA e Canada, o que mais chamou a minha atenção foi o facto de viverem de forma modesta e pacata, numa relação muito próxima da natureza, fazem uma alimentação muito saudável e têm uma vida ativa (estudos indicam que são das populações com menor prevalência de cancro).
Excluirque interessante, já tinha ouvido falar das comunidades amishs, mas não tinha noção da maneira como eles viviam, o respeito é sem dúvida essencial para o conhecimento de outras culturas.
ResponderExcluirSem dúvida! Aliás uma das qualidades "exigidas" aos viajantes é essa capacidade de se colocar no lugar do outro, sem ideias pré-concebidas, indo na postura de aprendizagem :)
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