AÇORES | 3 dias na Ilha Montanha (Pico)

Continuando com o pressuposto de que está a fazer uma viagem de 8 dias pelas ilhas do triângulo (clique aqui para dicas práticas), reserve 3 dias para a ilha do Pico, pois esta tem muito mais para oferecer do que uma simples volta à ilha para picar os principais pontos no mapa. Caso pretenda subir ao ponto mais alto de Portugal adicione 1 dia à sua passagem pela ilha.

Aliás, em qualquer uma das ilhas dos Açores, mais do que ver, vale a pena viver a insularidade e tentar sentir o que é ser-se ilhéu, e é nas ilhas do Grupo Central, e particularmente no triângulo, que se tem a verdadeira noção do viver em arquipélago.

Nos últimos 14 anos as ilhas do triângulo têm sido a minha escolha para as férias de Verão, por isso foi bastante difícil para mim reduzir o roteiro a 3 dias.

O percurso que proponho privilegia o que, na minha perspectiva, o Pico tem de melhor para oferecer: piscinas naturais, cultura vitivinícola, a herança baleeira, e a ruralidade. Tudo isto sobre a vigia atenta de uma assombrosa montanha.

Por motivos de organização do post, dividi os 3 dias pelo 3 concelhos, destacando os pontos principais de cada um deles, para que se possa organizar consoante a localização da sua estadia, o seu ritmo e interesses.

Para o ajudar a orientar-se em termos de disposição dos pontos pela ilha, no mapa ilustrativo, encontra a verde os pontos situados no concelho da Madalena, a laranja nas Lajes e a azul em São Roque. A roxo estão identificadas as principais lagoas.

Vamos então conhecer as nossas sugestões.

Dia 1 - Madalena

Quando conheci a Vila da Madalena, há 18 anos atrás, esta era uma pitoresca vila com uma vista espectacular para a ilha vizinha do Faial. Actualmente, está muito diferente pois nos últimos anos tem sofrido alterações em termos de infraestruturas, procurando assumir-se como centro de desenvolvimento da ilha.

Nas freguesias e lugares circundantes encontra impressionantes testemunhos de herança vulcânica e vitivinícola. Listamos para si os principais atractivos:

·   Como não podia deixar de ser, uma dos principais atractivos é fazer um trilho pedestre pela Paisagem Protegida da Cultura da Vinha da Ilha do Pico. Esta paisagem é Património Mundial da Unesco desde 2004, classificação que se deve, em parte, ao “notável padrão de muros lineares paralelos e perpendiculares à linha de costa rochosa, onde as vinhas são cultivadas em chão de lava negra”. É na freguesia da Criação Velha que esta paisagem se expressa de forma mais significativa.

O percurso, rico em elementos associados à cultura da vinha, tem uma rota linear, com início na freguesia da Candelária, no Porto do Calhau, e fim na Areia Larga, junto ao Restaurante Ancoradouro. Caso não faça o percurso a pé pode percorrer algumas partes de carro.

Se pretender aprofundar o seu conhecimento sobre a cultura da vinha e especificamente a produção vitivinícola, pode visitar o Museu do Vinho do Pico, situado nos Toledos, e a Cooperativa Vitivinícola da ilha do Pico.

As adegas, associadas à produção e armazenamento de vinhos, licores e aguardentes, são uma forte componente da identidade dos picarotos, que ali reúnem familiares e amigos. O percurso desde a Barca até ao Lajido (já no concelho de S. Roque), incluindo o Cais do Mourato e o Cachorro, reúne o melhor de dois mundos: adegas e piscinas naturais, para se transformar num paradisíaco destino para férias.

Dicas

-Na zona do Cachorro encontra, na minha opinião, os melhores licores à venda na ilha - desde a neveda, à amora, passando pela tangerina, pode provar e aprovar os seus sabores! Já que está por aqui procure identificar a rocha que se assemelha a um cachorro e que deu nome a esta zona.

-No Lajido pode visitar o Centro de Interpretação da Paisagem da Cultura da Vinha da ilha do Pico.

-Na Barca situa-se o Cella Bar com uma esplanada onde pode assistir a um deslumbrante pôr-do-sol com vista para o Faial.

·  Gruta das Torres - visite o maior tubo lávico em Portugal, com 5150m de comprimento. Ao longo de um emaranhado de túneis encontrará estalactites, estalagmites, bancadas laterais e lava balls.

São Mateus - faça o percurso à beira-mar, passando pelo farol, até à Ponta alta na Prainha do Galeão. 

São Caetano - freguesia localizada no sopé da montanha, e um dos melhores sítios para sentir a imensidão da montanha.

Casa da Montanha - apesar do principal objetivo deste espaço ser apoiar os caminhantes que pretendem subir a montanha, quem não tem este intuito pode usufruir do bar com vista panorâmica para a paisagem da costa oeste do Pico e para a ilha vizinha, e ainda ter acesso à informação exposta relacionada com a Reserva Natural da Montanha do Pico.

Restauração/Pastelaria/Snack-bar: Ancoradouro, Atlântico Tea and Wine House, Padaria Andrade, Linu.

Dia 2 - Lajes

·       
  São João - A Reserva Florestal de Recreio do Mistério de São João, é uma zona de lazer e piqueniques, com vários atrativos para as crianças.

- Os mistérios (São João, Praínha, Silveira, Santa Luzia) são zonas na costa da ilha que têm uma origem mais recente e resultaram de erupções da montanha do Pico. É literalmente solo vulcânico que foi adicionado posteriormente à formação da ilha. Estas características reforçam o cunho vulcânico desta jovem ilha, fortemente marcada pela cor negra do basalto.

·   Nesta freguesia fica também a Queijaria do Pico, onde é feito o amanteigado queijo do Pico.
  
    Centro de Artes e Ciências do Mar - situado na Ribeira do Meio, na antiga fábrica da baleia, onde pode ver equipamentos fabris e aprender sobre a fábrica e os grandes cetáceos.

Vila das Lajes - chegado à Vila Baleeira, a minha preferida, por ser a mais pitoresca e charmosa, estacione o carro e passeie pelas suas ruas, apreciando a arquitetura colonial das suas casas.

Museu dos Baleeiros - situado na Vila baleeira por excelência, este museu é considerado o mais completo dos Açores no tema.

Observação de cetáceos - Este é o local ideal para experimentar esta atividade, uma vez que o Sul do Pico marca a zona de maior concentração e passagem de cetáceos nos Açores.

·  Baía do Castelete - ou Maré, como sempre ouvi chamar. Para além da formação peculiar, é mais uma opção para banhos.

Prossiga com destino à Calheta do Nesquim, um dos principais centros baleeiros, a par da freguesia das Ribeiras. Pelo caminho vai encontrar vários miradouros.

Na Calheta do Nesquim, em frente ao porto, pode visitar uma oficina muito interessante que homenageia os homens do mar daquela freguesia. A exposição tem botes baleeiros e outros elementos da caça à baleia, e pode ainda ver fotografias dos mestres dos barcos e alguns troféus recebidos. Embora hoje em dia a caça à baleia seja uma atividade extinta, os botes ainda saem ao mar para entrar em regatas.

Ainda na Calheta, vale a pena descer à Poça das Mujas, quer pela zona balnear quer pelo bar. Isto é qualidade de vida!

       

   Pelas vistas, pode fazer o percurso até ao Farol da Manhenha, disposto sobre um mar de lava negra. Vamos lá todos os anos, mas o ano passado já não conseguimos entrar para visitar porque estava fechado. Pode ser que tenha sorte! Daqui poderá avistar a ilha Terceira.

O Parque Matos Souto, na Piedade, é composto por diversas áreas entre as quais, um jardim com diversificadas espécies de árvores e arbustos.

Ao longo do parque pode ver também a recriação de várias cenas da vida agrícola no Pico.

Agora que chegou à ponta da ilha, dependendo do seu cansaço, e da hora, dou-lhe duas sugestões, continuar pela costa até São Roque, muito provavelmente, completando a sua volta à ilha. Ou segue desde a Piedade para o interior da ilha com o objetivo de fazer o percurso das Lagoas.

Restauração/Pastelaria/Snack-bar: Aldeia da Fonte, Pastelaria Aromas e Sabores, Ponta da Ilha.

Dia 3 - São Roque

A Vila de S. Roque do Pico assume-se como capital do turismo rural, conforme poderá facilmente constatar ao passear pelas suas freguesias.

Pare no Miradouro da Terra Alta e no Miradouro da Meia Encosta com vista para a ilha de são Jorge e imensidão da paisagem Laurissilva.


Prainha do Norte - Baía das Canas - chegará a uma pequena praia de areia, a única no Pico.


Turismo Rural - passeie pelas freguesias para testemunhar a rica oferta em termos de turismo rural, desde Santo Amaro, Canto da Areia, Prainha de Cima e Prainha de Baixo, a S. Miguel Arcanjo.

Na freguesia da Prainha encontra um parque florestal com uma casa típica com atafona, onde pode entrar e testemunhar a arte do labor do homem do Pico.

Este parque, imaculosamente limpo e cuidado, é o local ideal para tomar a sua merenda, ou mesmo fazer um churrasco, sentindo-se bem perto de S. Jorge.

Restauração: Casa Âncora

Extra: Interior da ilha e Lagoas
Se verificar que tem tempo de sobra aventure-se pelo interior da ilha.

No início da sua subida pela Vila da Madalena (pela EN3) irá muito bem acompanhado pela vista para o Faial.

Atenção que as vacas andam livremente, pois uma das particularidades é os terrenos não estarem limitados. Estas são mesmo vacas livres e felizes! Não esqueça que elas vivem ali e você é o visitante. Tenha cuidado na condução!

Com o aumento da altitude irá testemunhar um tipo de flora e de morfologia do terreno muito característicos do Pico.

Se estiver pelas Lajes ou São Roque, pode apanhar a estrada transversal (EN2) e aventurar-se pelos caminhos que encontrar.

No Pico, vários caminhos vão parar às Lagoas. Pode subir pela Piedade; pode seguir da Madalena pela EN3; ou pelas Lajes e S. Roque pela EN2. 

Algumas lagoas encontram-se a uma altitude bastante considerável, por isso certifique-se de que sobe num dia de céu aberto. Posso testemunhar que é bastante assustador estar a estas altitudes quando o céu começa a escurecer, as nuvens começam a descer e deixamos de ter visibilidade.

O principal atractivo de fazer o percurso pelas lagoas, na minha opinião, não são as lagoas em si, mas o facto da sua envolvência estar ainda num estado muito selvagem, em que a mão humana praticamente não tocou.

Do percurso (que também é um trilho de cerca de 22km) assinalado no mapa ilustrativo a roxo, constam a Lagoa do Peixinho, a Lagoa Rosada, a Lagoa do Paul, a Lagoa do Caiado e a Lagoa do Capitão.

Com estas dicas, que não pretendem esgotar o que pode fazer no Pico, penso que levará consigo uma visão bastante completa da ilha. 

Se assim for, certamente ficará com vontade de regressar a estas paragens cujo cunho rural nos reporta a um tempo onde não havia pressas e tudo parecia mais simples.

Chegado ao fim dos 3 dias na ilha do Pico, é hora de visitar o Faial.